terça-feira, 27 de junho de 2017

O Profissional

Ei, sê intransferivelmente insuportável!
Não me vomite teu dia-de-troco!
Sê, acima de nada, Seboso, um lixo
consigo
me deixe em guerra
declarada a ninguém menos que me permita
andar sobre o chão cheirando medo e arenga
É tempo santo que vem!

O PROFISSIONAL - April 6th, 2017
Marcos Mar.

Propoesia

-Ó, Sertão!
    Vai!
      Vira mar!
Pois não, virar mar
mar vira, vira vira
virou sertão de mar
de mar sou tão
tanto tudo
         tudo tão
         tanto teu
         Ser ou não
         Ser o sermão
Ser irmão
Pois então, coesão:
Morte e vida Tarantina
Lavo o chão
pego o pano
Pegar a água com a mão
cor, ação, colora a mão
o chão, o dedo o pano o rodo
corro, salvo e são
tão mar, sou tão mar
Umilha o mar, uma ilha
no mar sou tão
no estádio de ser o

PROPOESIA - April 4th, 2017
Marcos Mar.Luz Virginia.

A INFANTO-TERRENO COMÉDIA - Conto Autoral

A INFANTO-TERRENA COMÉDIA

de Marcos “Mar” Rodrigues
11 de Junho de 2017

No começo de minha vida me avistei nos calçamentos da Rua de Frente da Rua da Lagoa da Rua da Feira. Contava um, dois, três, quatro, cinco, seis anos. Agora sou mais grande. Estou escrevendo porque não quero que nunca esqueçam do que aconteceu comigo. Foi a segunda melhor coisa de todas. A primeira foi, mas é claro, ganhar um Nintendo 64 do meu tio Zé Claudinho. O tio vendia e comprava essas coisas que ninguém sabe onde.
Andava eu tranquilo pela rua que fica na frente desse monte de  coisas que você acabou de ler. Voltava da feira do domingo. Domingo é dia de feira. Tinha ido comprar amendoim. Dois reais de amendoim, dois reais de amendoim. Me assustei quando encontrei um cartuchinho perto do quebra-as-molas-da-moto da rua. Era o mais raro joguinho do Mario-Mario. A fitinha estava ali, eu olhava para ela. Ela olhava para mim. Ela sabia que um dia eu iria encontrar ela perto do quebra-as-molas-do-carro-do-Padrinho-João.
Peguei a fitinha em minhas mãos. Estava mais do que feliz, “bem aventurado”, como o Pastor disse. Quando cheguei em casa, entreguei o saquinho cheio de dois-reais-de-amendoim à Mainha. Logo, logo contei da maravilhosa cena que tinha acontecido comigo na rua de frente as coisas que você pode ler de novo, voltando pro começo da historinha.
Estava, bem aventurado. “Para os leigos”, como diz o Pastor, mais que feliz. Mas minha mãe me olhava não tão bem. “Esquisitomente”?
-Sabia que o Jotinha perdeu  uma fitinha como essa aí, hoje pela manhã?
-Não. Respondi bem sem dar muito valor.
-Onde você achou essa coisa Eugênio?
-Mainha, a pessoa que lê já sabe o lugar…
-Então foi no quebra-mola de frente à casa da Dona Leninha?
Para você que não sabe, Leninha era o nome da Mãe de Jota. E, não. Eu não estava escondendo esta informação. Nem lembrava que estava perto mesmo da casa deles.
-Mas eu achei no meio da rua, Mainha. Não tem como esse joguinho ser do Jota.
-Olha lá, menino! Ele pode muito bem ter perdido em frente à casa dele. Eu trabalho na casa da Dona Leninha, passando e lavando, faz cinco anos. Não quero arrumar confusão porque meu filho está roubando as coisas do filho da Dona.
-Eu disse que achei no meio da rua.
-Pois eu acredito. - Disse minha mãe, agora um pouco mais “entendida” das coisas que aconteceram? - Vamos trazer os dois aqui, a Dona e o Jotinha. Quero que ele veja que essa fitinha não é dele mesmo. Já estão surgindo conversas…
Uma semana inteirinha passou. Eu jogava aquela fitinha todos os dias. Estava “viciado”, como o Pastor fala. Eu amava aquele joguinho. Ele também me amava. Ele era meu. Meu valioso. E achado não é roubado. Não queria ficar sem o joguinho. Todos diziam que eu tinha roubado. Meu pai, minha tia, meu tio Zé Claudinho: até ele!
Antes, eu ia toda semana para a casa da Dona Leninha-Abelhinha, para brincar com o Jota, enquanto minha mãe limpava ou faxinava a casa deles. Lá, eu brincava com todos os brinquedos caros do Jota, e eram muitos! Nunca peguei nenhum deles antes! Por que eu ia roubar uma fitinha de nada?
“O Dia” tinha chegado. O “Dia Deles”. A Dona Abelhinha e o filho “JJ” estavam vindo para minha casa. E se a fita fosse do Jota mesmo? Se ele tivesse brincado na rua e perdeu? Quem é que brinca na rua com uma fita de video-game na mão?
Eles não podiam levar meu jogo de mim! Não, não podiam! E se o Jota fosse mesmo o dono? Ele tinha muito mais brinquedos que eu. Nunca iria sentir falta de um cartuchinho de nada. Se ele tivesse perdido, problema dele, dançou. Eu achei. Achado não é roubado, e quem perdeu foi abestalhado.
Estava tudo perdido para mim. Foi então que tive minha mais brilhante ideia. Duvido que você que lê poderia ter pensado em fazer alguma coisa parecida.
Lembrei do Luís. Ah, o Luisinho! Meu amiguinho, da Rua perto da Rua de Vóinha, também tinha um Nintendo 64. Lembrei que já tinha jogado com ele e os irmãos dele, eram muitos irmãos! Ele sabia que meu novo joguinho do Mario-Mario era o mais raro. Era “óbvio”, como todos os adultos dizem, que ele iria querer trocar por alguma fita dele, para jogar por um dia só. No dia seguinte da visita do Jota, eu iria pegar minha fita de volta. E ela seria minha! Para sempre!
Esperei a minha mãe ir ter sua conversa-de-todos-os-dias com a Vizinha-Maria para sair pela pequena janela do meu quarto, escondido. Já contava anos demais, não passava pela janelinha de um jeito tão fácil como nos anos de antes. Pulei o murinho da casa. Todos diziam murinho, mas era um gigante para mim. Rasguei um pedacinho de minha bermuda, pulando aquele murão.
Rapidinho cheguei na casa do Luisinho. Corria parecendo mais aqueles carrinhos de Fórmula 1, 2, 300 metros. O menino dos muitos irmãos ficou “bem aventurado’” por ver que eu tinha aquele jogo, e iria emprestar para ele por um dia. Ele me emprestou de volta um jogo de carro de correr qualquer. Era o preço que tinha que pagar: ficar um dia sem o Mario-Mario.
Corri como um rato fugindo de gato que foge de um cachorro, de volta para casa. Pulei o muro, desta vez para dentro. No lugar que tinha rasgado na minha bermuda, senti uma dorzinha como unhas-feitas de mulher passando na minha perna. Tinha um arranhãozinho. Tinha pulado com mais cuidado da primeira vez. Reparei que minha mãe ainda estava conversando com a vizinha maria, nem desconfiava que eu tinha saído e pulado o muro duas vezes. Ela dizia pular o muro faz mal, pular o muro é feio. Como um furacão, botei uma bermuda novinha em folha. Não deu um minuto e meio, a Dona e o Jota tinham chegado.
Fiquei no meu quarto. Porta fechada. Fita dos carros de correr na mão. Aquela não era a fita. Eles não iriam levar meu valioso cartuchinho. Aquela não era a fita, não era. Segurava a fita, nervoso. Com um sorrisinho no cantinho esquerdo da boca. Aquela não era a fita. Mario-Mario era somente meu.
As pessoas grandes falam muito. Minha mãe e a Dona Leninha, falaram e falaram, coisas de adulto. Alguma coisa sobre um pastor que estava precisando de um novo carro. Foi o que consegui ouvir, de longe, do meu quarto. Não entendi porque isso era tão importante para elas.
Não ouvia nem sinal da voz do menino-que-todo-mundo-dizia-que-tinha-sido-roubado.
Minha mãe me chamou, finalmente. Ela não tinha me visto desde a minha aventura corrida pela noite, alguns minutos atrás.
Saí do meu quarto, bem devagarinho. Meus pezinhos se arrastavam pelo chão de piso-pisado. Olhava para eles, os pés, as sandálias faziam um som xiii, xiii, xiii, xiii. Levantei a cabeça, e lá estavam os três, na cozinha pouco cheia de espaço. Só conseguia olhar para minha mãe. O menino Jota solta um sorriso gigante e me dá um abração que me faz doer um pouco. Ele era bem gordinho, gordinho e fortinho. Apertava que nem precisava.
-Achou mesmo um joguinho hoje? Ele perguntou. Ele sabia que sim. Me sentia muito chateado com essas perguntas.
-Foi sim.
-Perto lá de casa? Ele sabia que sim. Por que ele fazia aquilo?
-Foi, sim.
-Que sorte! Ainda bem que tenho um amiguinho como você. Minha mãe falou que você quis muito que eu viesse ver, sabe, hu... Eugênio, pra saber se é o que eu perdi hoje de manhã.
-Ah sim.
O menino gordinho-abelhinho-riquinho abriu mais um daqueles sorrisos que nem precisava.
-Posso ver qual foi? Agora?
Tinha colocado a fita-falsa no bolsinho da bermuda-falsa.
-Ah, sim.
Reparei que as Donas-Adultas tinha  nos deixado sozinhos na cozinha. Elas saíram tão depressa! Eu prestava atenção somente nos meus pés. Não consegui ver a hora que elas saíram.
Tirei a fita-falsa do meu bolsinho. Entreguei ao menino, sem dizer uma palavrinha qualquer.
Ele olhava de cima em baixo. Olhava, checava, mais do que precisava. Eu já ficava pouco calmo. Ele teria sabido de tudo o que aconteceu antes de ele chegar? Não tinha como isso ser possível!
A grande surpresa chegou logo.
-É essa fitinha mesmo! Foi a que eu perdi! Falou sem muito daquela animação de antes.
Ele só podia estar doido! Como pode? Não, não! Aquela fitinha era aquela que eu tinha pegado do Luisinho. Não, Não! O que eu iria fazer? Como iria resolver aquilo tudo? O que eu ia contar para o Luís? Para a minha mãe? E eles… os adultos.. Eles iriam querer saber de tudo…
Tive a ideia de dizer ao Luís que tinha perdido a fita dele, e que ele podia ficar com a minha. Ele iria gostar. A minha fitinha valia muito mais do que aquela-de- -carros-de-correr sem graça. Mas e se ele não quisesse? Droga… Jotinha-Abelhinha tinha feito uma grande confusão…
Mas o menino que estava na minha frente abriu mais um sorriso. Daqueles que você que lê sabe que a gente nem precisa.
-Mas você sabe… Hu…. você é um grande amigo, Eugênio. E você achou, né… Eu fui bem descuidado… hu… Eu nem jogo tanto assim esse joguinho. Você pode ficar com ele se você quiser.
Senti uma explosão de são-joão dentro do meu coração. Estava bem aventurado! Dei um abraço apertado no menino fortinho, vocês sabem que às vezes a gente precisa…
A fita não era aquela. A minha estava segura. Mas era minha. Ela era minha de novo. Ninguém mais podia tirar aquele cartucho de mim! Quer saber?… ela era minha desde o começo… Achado não é roubado. Ela sabia que eu ia encontrar ela no quebra-as-molas de frente da casa-da-colméia.  
Pensei em passar na casa do Luizinho aquela noite mesmo e pegar o meu joguinho de volta. Iria passar a noite inteirinha jogando o mais incrível game de todos! Que felicidade! Que bo-a-ventura! Como dizem…